Marionetas

"Vislumbram-se quatro paredes nuas, e no meio delas cordéis e pequenos pedaços de fios, de alicerces que sustentam toda uma figura no meio daquele cenário. Cada palavra, cada pedaço de ar, cada movimento deste e cada acção, fazem mover a figura, puxando os fios para um dos lados, mas nunca para todos ao mesmo tempo.

No meio de toda a maquilhagem que lhe confere um aspecto de boneca frágil, e debaixo de umas pestanas enormes arranjadas grosseiramente, descobrem-se dois olhos, retinas e pontos no horizonte da sua alma, que disparam na nossa direcção, pedindo-nos algo.

Entre a ausência de calor humano e a limitação de movimentos, há algo na frieza daquelas paredes que perfura ainda mais o nosso imaginário, que nos faz tremer por todos os lados.

Ponderamos entre o entrar ou não, passar o limite daquela porta, entrar no cenário, observar mais de perto aquela figura, para percebermos o que nos pede, os seus desejos e angústias, enquanto algo dentro de nós vai dizendo para prosseguirmos, para darmos o passo em frente.

Por esta altura uma voz entra na nossa cabeça e pergunta-nos uma questão simples: "até que ponto estão dispostos a ir?"

Apesar do incómodo que nos causa tal pergunta, em resposta a ela, avançamos na direcção da figura, até ficarmos a uma distância segura o suficiente, contemplando mais de perto o bizarro e saboreando a atracção que tantas vezes ele nos provoca.

Ela nada nos diz, pelo menos com os lábios, que parecem selados por um desejo de outras formas de comunicação menos práticas. Aos poucos aprendemos a ouvir a voz na nossa cabeça, e de maneira simples fazemos também uma pergunta.

*o que desejas realmente?

"que me cortes os fios e me dês um abraço"

[ Texto de Nuno Almeida - Projecto Cellophane ] - Obrigada! ;) **